Ao falarmos sobre o consumo de álcool e outras drogas geralmente surgem outros termos, como usuário, usuário abusador e dependente de substâncias. Qual a diferença entre estes termos? Como diferenciar um perfil de consumo do usuário do perfil de consumo do dependente? E o mais importante, quando se faz necessário buscar ajuda? Comumente se ouve falar que dependente de substâncias é aquele que faz uso todos os dias. Mas será que é este o critério utilizado para identificar/diagnosticar um dependente?
Quando o assunto é o usuário, podemos identificar algumas etapas conforme a evolução do uso da substância, pensando aqui em qualquer substância psicoativa. A primeira etapa é a do usuário experimentador, que conheceu a substância e faz uso esporadicamente. A segunda etapa é a do usuário ocasional. Este já possui certa identificação com a substância, e cria oportunidades para fazer uso vez por outra. A terceira etapa é a do usuário habitual. Para este o uso de substância já faz parte da rotina. Ele já tem previsto os dias de uso, que geralmente ocorrem uma ou mais vezes na semana. A quarta e última etapa do usuário é a do usuário abusador. Esta etapa é caracterizada pela manifestação dos problemas causados pelo uso de substâncias, sejam problemas relacionados a saúde, finanças, com a lei, responsabilidades, trabalho e principalmente problemas sociais. O usuário, com algum esforço, pode retroceder nestas etapas e diminuir ou cessar o uso. Porém, ao cruzar a linha tênue que existe entre o usuário abusador e o dependente químico ou alcoolista, não será mais possível voltar a ser apenas um usuário.
Mas o que caracteriza a dependência química e o alcoolismo, diferenciando este perfil do usuário? Este transtorno, que é atualmente chamado de transtorno por uso de substâncias, é comumente diagnosticado a partir de critérios como: Um forte desejo para consumir a substância; Dificuldade em controlar a quantidade da substância consumida, ou do tempo e dinheiro gastos no uso; Um estado de abstinência físico, quando o uso diminui ou cessa; O uso de quantidades maiores da substância para se obter o efeito antes atingido com quantidades menores; O abandono de outras formas de lazer ou busca de prazer priorizando atividades relacionadas ao uso; E a persistência no uso da substância, mesmo percebendo que este uso está causando diversos prejuízos. A soma maior ou menor destes critérios para cada pessoa aponta para a gravidade da dependência química ou alcoolismo. E sim, com a constatação da dependência química ou alcoolismo cabe a busca por tratamento, para que o uso possa ser cessado, não agravando os prejuízos ao sujeito.
Um dos grandes desafios que observamos no tratamento a dependentes é justamente a fantasia do dependente de tentar voltar a ser um usuário habitual ou ocasional. Uma fantasia de uso controlado, que causa boa parte das recaídas no processo de tratamento. E no que diz respeito ao reconhecimento da própria dependência percebemos que geralmente os alcoolistas estão em desvantagem em comparação aos dependentes de outras substâncias. A famosa frase “eu paro quando eu quiser” dita por muitos alcoolistas é a retratação da negação da própria dependência, que geralmente vem acompanhada de frases que minimizam o uso ou justificam o consumo de álcool como recompensa pelo esforço no trabalho, o consumo como merecimento pela provisão de alimentos para a família, etc.
A partir dos critérios acima podemos afirmar que nem todos os usuários de substâncias são dependentes, mas que todos os dependentes já foram usuários. Ou seja, iniciaram a sua jornada como usuários de determinada substância. No caso de constatação de dependência química ou alcoolismo busque ou proponha auxílio, com profissionais da saúde, CAPS, grupos de mútua ajuda e comunidades terapêuticas.